Spread bancário do Brasil: o que esperar do futuro?

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5 min de leitura

Por: Confidence Câmbio • 30/01/2020

Você já reparou que, mesmo com os sucessivos anúncios de redução da taxa Selic (referencial de juros da economia, estimado pelo Banco Central a cada 45 dias), o crédito bancário continua altíssimo? Pois a resposta para esse fenômeno passa pelo entendimento do que é spread bancário.

Para você ter uma ideia do custo do crédito no Brasil, de acordo com os últimos estudos, os juros do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito estão atualmente na faixa dos 307% ao ano, mesmo com a Selic batendo mínima histórica (5,5%). Não por menos, portanto, o país está entre as 8 nações com os maiores juros reais do mundo!

Em paralelo a isso, vemos periodicamente nos telejornais a divulgação do balanço dos bancos, que sempre fica na casa do bilhão e quase sempre com quebra de recordes. Será que a causa desse disparate está nos lucros estratosféricos dos grandes bancos nacionais?

As instituições financeiras se defendem, alegando que o spread bancário no Brasil é elevado por causa da inadimplência e dos depósitos compulsórios, ressaltando inclusive que não há nenhum banco brasileiro entre os 10 mais lucrativos do mundo, de acordo com a última lista divulgada pela Forbes.

Então qual a razão para termos financiamento tão caro? É isso que você entenderá agora!

O que é spread bancário?

O spread bancário é um excelente indicador de eficiência do sistema econômico de um país, especialmente porque spreads muito altos têm grande impacto no consumo das famílias e na capacidade de investimento de empresas e governos. Ele tem relação direta com os juros altos que pessoas e empresas pagam quando precisam de um empréstimo, por exemplo.

Para entender esse conceito com segurança, entretanto, é preciso primeiramente compreender qual é o papel das instituições financeiras na circulação de moeda entre investidores e endividados.

Conforme modelo apresentado pelos pesquisadores Thomaz Ho e Anthony Saunders, os bancos são intermediários do mercado de crédito. Eles são negociadores (dealers), que captam dinheiro em uma ponta e o reemprestam na outra. 

De um lado, portanto, temos o tomador de empréstimo, que precisa se endividar para viajar com a família, por exemplo. Eles recorrem aos bancos, que liberam crédito mediante determinada taxa de juros.

O que ocorre é que os bancos, por si mesmos, não têm capital alocado. Seu lastro financeiro para a participação no mercado de crédito se forma pela captação de recursos feita no outro extremo desse ecossistema financeiro, junto aos investidores, mediante emissão de títulos como CDBs, LCIs/LCAs e, é claro, com o saldo positivo em caderneta de poupança.

Assim, se o banco é credor em uma ponta da negociação, junto aos tomadores, na outra assume o papel de devedor, devendo remunerar os compradores de seus títulos (ou clientes com dinheiro aportado na poupança) com juros. É essa diferença de taxas (favorável aos bancos) que se chama spread bancário.

Os bancos atuam, portanto, como intermediários entre os agentes superavitários (investidores) e os agentes deficitários (tomadores de empréstimos). Como ele absorve recursos em troca do pagamento de juros e, ao mesmo tempo, reempresta esse dinheiro, haverá sempre uma diferença (positiva) nas taxas de juros dessas 2 operações.

Spread bancário é, portanto, a diferença entre a taxa de juros cobrada do tomador de empréstimo e a remunerada ao investidor. Entender esse conceito ajuda a compreender também o spread cambial, que é a diferença entre o valor pago por uma casa de câmbio na compra de moeda estrangeira e o valor recebido por ela na operação de venda.

Voltando ao nosso tema principal, existem diversos os fatores que justificam a amplitude entre as taxas que formam o spread bancário, como o preço que o banco paga para dispor do dinheiro e reemprestá-lo, bem como a concentração dessas operações entre poucas instituições. Mas isso é assunto para nosso próximo tópico.

Por que o spread bancário do Brasil é tão alto?

Para saber a origem desse altíssimo spread bancário, é obrigatório analisar a decomposição do Índice de Custo de Crédito (ICC), referencial divulgado pelo Banco Central desde 2017 que tem o objetivo de dissecar todas as variáveis que compõem o custo (e o lucro) das instituições financeiras nas operações de financiamento. Vamos encontrar o estudo desse índice no Relatório de Economia Bancária de 2018 do BC. Confira abaixo a decomposição do ICC médio ajustado.

1. Custo de captação

  • 2016: 8,10%;
  • 2017: 7,50%;
  • 2018: 6,77%;
  • Média: 7,46%.

2. Inadimplência

  • 2016: 4,85%;
  • 2017: 4,93%;
  • 2018: 4,19%;
  • Média: 4,66%.

3. Despesas administrativas

  • 2016: 3,28%;
  • 2017: 3,50%;
  • 2018: 3,52%;
  • Média: 3,43%.

4. Tributos + FGC

  • 2016: 2,51%;
  • 2017: 2,52%;
  • 2018: 2,70%;
  • Média: 2,58%.

5. Margem financeira do ICC

  • 2016: 1,72%;
  • 2017: 1,80%;
  • 2018: 2,08%;
  • Média: 1,87%.

ICC médio ajustado (total)

  • 2016: 20,46%;
  • 2017: 20,25%;
  • 2018: 19,26%;
  • Média 19,99%.

Essa tabela do Banco Central mostra que o crédito no Brasil vem ficando ligeiramente mais barato nos últimos anos, mas a faixa mais recente (19,26%) ainda é muito elevada.

Vamos melhorar a visualização dos dados, distribuindo a proporção de cada item no total (100%) do spread bancário? 

1. Inadimplência

  • 2016: 39,24%;
  • 2017: 38,67%;
  • 2018: 33,55%;
  • Média: 37,15%.

2. Despesas administrativas

  • 2016: 26,54%;
  • 2017: 27,45%;
  • 2018: 28,18%;
  • Média: 27,39%.

3. Tributos + FGC

  • 2016: 20,31%;
  • 2017: 19,76%;
  • 2018: 21,62%;
  • Média: 20,56%.

4. Margem financeira do ICC

  • 2016: 13,92%;
  • 2017: 14,12%;
  • 2018: 16,65%;
  • Média: 14,90%.

Spread do ICC (total)

  • 2016: 100%;
  • 2017: 100%;
  • 2018: 100%;
  • Média: 100%.

Veja que, em 2018, a inadimplência (alegada pelas instituições financeiras como vilã do crédito no Brasil) responde por 33,5% do total do custo do crédito. Já o depósito compulsório, os tributos e o Fundo Garantidor de Crédito (fundo que assegura o ressarcimento do investidor ou do poupador em caso de falência do banco) representam 21,62% desse montante.

Para quem não está familiarizado com os termos de investidores, depósito compulsório é um instrumento utilizado pelo BC para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia, obrigando os bancos a depositarem (junto ao próprio BC) parte de sua captação. Menos dinheiro na economia o torna mais caro, ajudando a elevar os juros.

Fazendo as contas, percebemos que inadimplência + tributos, FGC e depósitos compulsórios respondem por 55,17% do custo do crédito. Já a margem de lucro dos bancos nas operações, 16,65%.

Concluímos, portanto, que a resposta para o questionamento por que o crédito por aqui é tão caro não passa somente pela ganância dos bancos, mas também por uma área em que o Brasil é um dos piores do mundo: a recuperação de crédito. No início de 2019, por exemplo, tínhamos 62 milhões de brasileiros inadimplentes. Outro problema é, de fato, o percentual de captação recolhido compulsoriamente pelo Banco Central, que ajuda a aumentar o spread bancário — como você pode ver na tabela.

Quais mudanças estão sendo feitas?

Em 2018, à sua conveniência, o Banco Central reduziu a alíquota de recolhimento compulsório dos bancos de 40% para 25%. Essa intervenção dos bancos centrais ocorre em muitos países do mundo, mas é preciso compreender que há impactos na ponta final do sistema: pessoas físicas e jurídicas que necessitam de financiamento.

Além disso, no próprio relatório de onde foram retiradas as tabelas acima, o BC informa que vem trabalhando na formulação de políticas de redução da inadimplência, flexibilidade na concessão de crédito e, é claro, redução da burocracia para a entrada de novos concorrentes no setor. A nós, resta aguardar.

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